segunda-feira, 24 de novembro de 2008

"Não escolho uma mulher pela cor. Escolho pelo cheiro, pelo astral"


Entrevista revela mudanças de comportamento
Gil de Souza, 22 anos, estudante de ciências sociais.


Se até hoje vi dez negros no corredor da PUC, foi muito. Sou o único negro da minha classe. Pelo menos dois professores me tratam diferente, mesmo num curso como o de ciências sociais. Olham para o meu cabelo 'dreadlock', imaginam que sou vagabundo.
Meus amigos podem me chamar de qualquer coisa, que eu não me incomodo. Entre amigos negros, então, a relação costuma ser mais direta, fazemos até piada: 'se enxerga, seu pretinho pé rapado'. Mas se algum estranho me chamar de neguinho, negão, crioulo, eu não gosto.
Sabe que até os mendigos que dormem no pátio de um supermercado perto de casa se sentem no direito de me tratar de forma íntima? Eles já chegam com: 'E aí, mano?' Se eu fosse branco, a abordagem seria diferente.
Durante dois anos, namorei uma loira. Um amor intenso, recíproco. Ela dormia em casa, mas minha mãe questionava a forma como eu estava sendo tratado. O pai dela era totalmente contra. 'Pô, ele é negro, então já sabe. É pobre, não tem futuro'. Eu ia buscá-la em casa e a mãe nunca me convidava para entrar. Fiquei traumatizado.
Quando o namoro acabou passei por uma fase em que me afastei das garotas. Ainda não tinha noção de que era um cara bonito. Hoje, quando falam que eu me produzo, uso roupas diferentes e tenho um visual de classe média, lembro da minha origem. Minha mãe era uma cozinheira que batalhou sozinha para sustentar sete filhos. As coisas não foram assim tão fáceis.
Eu percebia que às vezes me aconteciam coisas esquisitas. Uma vez, eu trabalhava de barman em uma festa e uma loira me puxou pela mão. Ela queria desfilar comigo, me exibir: 'Olha só o negão que consegui'. Eu me senti totalmente incomodado. Outra vez conheci uma francesa e logo pensei: 'essa aí está a fim de dar porque eu sou negro. Ok, então vamos brincar um pouco'. Só que acabei sacando que não era só isso e tivemos um namoro de seis meses.
Não escolho uma mulher pela cor, escolho pelo cheiro, pelo astral. A minha atual namorada é uma morena incrível e a família dela me adora. Também namorei duas negras. Mas não suporto esse tipo de pagode que faz o marketing do negão gostoso. Nesse caso, é o próprio negro que está se mostrando vulgar".

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