segunda-feira, 24 de novembro de 2008


Modelos Negros são minoria no mercado da Moda

O programa Fantástico que vai ao ar todos os domingos , produzido pela Rede Globo de Televisão exibiu no ultimo dias 06/01/2008 uma matéria que fala sobre a situação de modelos negros, que apesar da população negra representar 45% dos brasileiros o percentual de modelos negros nas passarelas está abaixo de 1%, mas está fatia da população vem subindo na pirâmide social e conquistando seu espaço.
veja a matéria :

Começa nesta segunda, no Rio, a temporada mais quente de desfiles e lançamentos da moda brasileira. E a gente lança a pergunta: por que há tão poucos modelos negros no Brasil?

Nas passarelas, são tantos modelos com um padrão europeu de beleza, que as semanas de moda no Brasil mais parecem desfiles em Paris, Londres, Milão.

"É deprimente você ver um desfile e ver a fila final que é bem bonita assim, você vê só meninas brancas desfilando", aponta Taís Damázio, de 24 anos.

"Nos grandes desfiles, principalmente no inverno, negro está absolutamente cortado”, diz o modelo Tet Mendes.

"Quando é moda praia, coleção primavera-verão, eles associam o negro à sensualidade, à praia, entendeu? Quando é moda outono-inverno falam que o negro, a pigmentação da pele do negro não é compatível com a cartela de cores que eles vão lançar naquela coleção”, conta o dono da agência exclusiva para modelos negros Helder Dias.

"Em sete anos de carreira no Brasil eu só consegui desfilar uma vez. Moda praia", diz a modelo Gisele do Vale, de 24 anos.

"Hoje em dia, o percentual de negros na passarela no Brasil é mínimo, abaixo de 1%", contabiliza a modelo Alanah, de 25 anos.

“Algumas marcas usam essa tática do politicamente correto. Vamos colocar um negro para poder mostrar que nós levantamos, nós somos a favor da causa", afirma o modelo Pedro Caetano, de 25 anos.

Neste país de 184 milhões de pessoas, quase 45% são negros. Uma fatia da população que vem subindo na pirâmide social, conquistando melhores salários.

"Nos últimos anos, o mercado de trabalho para os negros vem crescendo muito na publicidade, o que é muito diferente no mercado fashion, onde ainda existe um preconceito muito grande na escolha de modelos para desfiles e catálogos de moda”, compara o diretor de agência de modelos Fábio Ferrari.

“Temporada de moda lá fora, você vê o negro de terno e gravata. Você vê uma negra fazendo um desfile bacana, com uma roupa bonita. Aqui não”, diz o modelo Daniel Echaniz, de 26 anos.

"Nós somos um país multi-racial. Temos que dar todo valor ao negro”, diz um senhor.

"Sou a favor de promover os modelos negros. Eles são muito bonitos", comenta uma brasileira.

"O preconceito racial existe. A gente não pode negá-lo e ele existe em todas as áreas. Na moda também. Já encontrei alguns estilistas - muito poucos, graças a Deus - que não gostam de modelos negros”, afirma a diretora geral do Fashion Rio Eloysa Simão.

"Acho que uma qualidade inerente das modelos é a beleza, é a atitude e elegância. Não importa a cor da pele. Eu uso modelos negras nos meus desfiles”, aponta a estilista Mara Mac.

"A grande aposta entre as modelos negras do Fashion Rio é Gracie Carvalho, que é uma menina estreante. A gente acredita que ela tenha uma bela carreira pela frente”, aposta a diretora geral do Fashion Rio Eloysa Simão.

Apesar do preconceito, algumas modelos negras conseguem furar o bloqueio e virar o que na carreira se costuma chamar de top. É o caso da paulista Samira Carvalho e da mineira Carmelita Mendes. Meninas de origem humilde, hoje têm uma carreira de sucesso aqui e no exterior.

"No começo foi difícil, foi difícil, foi muito difícil. Não só pelo fato de ser negra, mas porque realmente é difícil mesmo. Mas eu fui, continuei persistindo. Levei não, levei sim. Comecei a trabalhar, me empenhei e fui. Cada vez eu dava o melhor de mim. Independente de você ser negra, ou ser branca, ou ser japonesa, ou ser índia, você tem que dar o melhor de si”, aconselha a modelo Samira Carvalho, de 19 anos.

Eis a receita de Samira: esperança e persistência. Quando se tem um sonho, mesmo com todas as dificuldades, nunca se deve desistir.

"Acredito que num futuro próximo a gente vai usar muito mais essa exuberância da beleza negra. Está na hora das pessoas abrirem o olho para nossa história, para nossa diversidade”, diz o dono de agência de modelos Sérgio Mattos.

Ser negro no Brasil hoje


Ética enviesada da sociedade branca desvia enfrentamento do problema negro
Milton Santos

Há uma frequente indagação sobre como é ser negro em outros lugares, forma de perguntar, também, se isso é diferente de ser negro no Brasil. As peripécias da vida levaram-nos a viver em quatro continentes, Europa, Américas, África e Ásia, seja como quase transeunte, isto é, conferencista, seja como orador, na qualidade de professor e pesquisador. Desse modo, tivemos a experiência de ser negro em diversos países e de constatar algumas das manifestações dos choques culturais correspondentes. Cada uma dessas vivências foi diferente de qualquer outra, e todas elas diversas da própria experiência brasileira. As realidades não são as mesmas. Aqui, o fato de que o trabalho do negro tenha sido, desde os inícios da história econômica, essencial à manutenção do bem-estar das classes dominantes deu-lhe um papel central na gestação e perpetuação de uma ética conservadora e desigualitária. Os interesses cristalizados produziram convicções escravocratas arraigadas e mantêm estereótipos que ultrapassam os limites do simbólico e têm incidência sobre os demais aspectos das relações sociais. Por isso, talvez ironicamente, a ascensão, por menor que seja, dos negros na escala social sempre deu lugar a expressões veladas ou ostensivas de ressentimentos (paradoxalmente contra as vítimas). Ao mesmo tempo, a opinião pública foi, por cinco séculos, treinada para desdenhar e, mesmo, não tolerar manifestações de inconformidade, vistas como um injustificável complexo de inferioridade, já que o Brasil, segundo a doutrina oficial, jamais acolhera nenhuma forma de discriminação ou preconceito.

"Não escolho uma mulher pela cor. Escolho pelo cheiro, pelo astral"


Entrevista revela mudanças de comportamento
Gil de Souza, 22 anos, estudante de ciências sociais.


Se até hoje vi dez negros no corredor da PUC, foi muito. Sou o único negro da minha classe. Pelo menos dois professores me tratam diferente, mesmo num curso como o de ciências sociais. Olham para o meu cabelo 'dreadlock', imaginam que sou vagabundo.
Meus amigos podem me chamar de qualquer coisa, que eu não me incomodo. Entre amigos negros, então, a relação costuma ser mais direta, fazemos até piada: 'se enxerga, seu pretinho pé rapado'. Mas se algum estranho me chamar de neguinho, negão, crioulo, eu não gosto.
Sabe que até os mendigos que dormem no pátio de um supermercado perto de casa se sentem no direito de me tratar de forma íntima? Eles já chegam com: 'E aí, mano?' Se eu fosse branco, a abordagem seria diferente.
Durante dois anos, namorei uma loira. Um amor intenso, recíproco. Ela dormia em casa, mas minha mãe questionava a forma como eu estava sendo tratado. O pai dela era totalmente contra. 'Pô, ele é negro, então já sabe. É pobre, não tem futuro'. Eu ia buscá-la em casa e a mãe nunca me convidava para entrar. Fiquei traumatizado.
Quando o namoro acabou passei por uma fase em que me afastei das garotas. Ainda não tinha noção de que era um cara bonito. Hoje, quando falam que eu me produzo, uso roupas diferentes e tenho um visual de classe média, lembro da minha origem. Minha mãe era uma cozinheira que batalhou sozinha para sustentar sete filhos. As coisas não foram assim tão fáceis.
Eu percebia que às vezes me aconteciam coisas esquisitas. Uma vez, eu trabalhava de barman em uma festa e uma loira me puxou pela mão. Ela queria desfilar comigo, me exibir: 'Olha só o negão que consegui'. Eu me senti totalmente incomodado. Outra vez conheci uma francesa e logo pensei: 'essa aí está a fim de dar porque eu sou negro. Ok, então vamos brincar um pouco'. Só que acabei sacando que não era só isso e tivemos um namoro de seis meses.
Não escolho uma mulher pela cor, escolho pelo cheiro, pelo astral. A minha atual namorada é uma morena incrível e a família dela me adora. Também namorei duas negras. Mas não suporto esse tipo de pagode que faz o marketing do negão gostoso. Nesse caso, é o próprio negro que está se mostrando vulgar".

NEGROS GATOS


No Brasil machista, demorou para o homem negro ser consagrado como símbolo sexual do país, a exemplo das mulatas. Agora, ele é a bola da vez, o príncipe das fantasias femininas. Nesta reportagem, cinco negros bonitos e charmosos falam de assédio e racismo e mostram o outro lado desta questão.

O estigma da sensualidade, que há tanto tempo persegue negras e mulatas, agora colou no outro gênero. A consagração do homem negro avança dos campos de futebol e do samba para o cinema, a música, a publicidade. Ícones da beleza negra masculina como os cantores Tony Garrido, Alexandre Pires e Netinho são só a ponta aparente de um fenômeno que estimula a libido feminina e salta a fronteira racial: quem levanta a bola são as mulheres brancas.
Nem todos os negros festejam. "Muitas mulheres ouviram falar dos atributos sexuais dos negros e querem experimentar algo diferente. Como se fumassem uma maconhazinha escondido", compara o cantor e bailarino Bukassa Kabengele. Ele não se diz interessado em representar o papel do "negão" consagrado em letras de pagode como a de "Os Morenos": "Lá vem o negão, cheio de paixão, te catar, te catar (...)".

A percepção que muitas mulheres brancas estão tendo de homens negros -e a falta de percepção, por parte de alguns deles, do que representam- é tema de reuniões da Associação Afro-Brasileira Ogban, de São Paulo. "A maioria não se dá conta de que certas brancas se aproximam movidas por fantasias como a de que o negro é bem dotado", sinaliza a pesquisadora Berenice Assumpção Kikuchi, da Ogban. Uma das consequências disso é que a mulher negra está ficando sozinha e, segundo a pesquisadora, continua procurada por brancos apenas para relações de caráter eventual.

Aumenta número de cidades onde Dia da Consciência Negra é feriado

No Dia da Consciência Negra, comemorado hoje (20), será feriado em 364 municípios de 12 estados diferentes. Este ano, 97 cidades a mais decretaram feriado em relação ao ano passado, quando foram 267, segundo levantamento da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).

Mato Grosso, Alagoas e Rio de Janeiro são os estados que decretaram feriado estadual. Também será feriado em Manaus, Flores de Goiás (GO), Itapecerica (MG), Marabá (PA), São Félix do Xingu (PA), Dona Inês (PB), Vilhena (RO), Pacatuba (SE) e em 21 cidades do estado de São Paulo. Este ano, a lista de municípios também inclui a cidade de Montes Claros (MG), que instituiu o feriado em dezembro de 2007.

Pelotas (RS) tinha o feriado decretado por lei municipal, mas revogou a lei há três anos. Segundo a assessoria da prefeitura, Pelotas era o único município do Sul que tinha o feriado. De acordo com a Seppir, 388 municípios têm legislação que institui o feriado de 20 de novembro. Mas, só 364 homologaram a lei.

No Congresso Nacional, está em tramitação o Projeto de Lei nº 4.437/04, que pretende instituir o dia 20 de novembro, data de morte de Zumbi dos Palmares, como feriado nacional. A proposta está na pauta da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania e ainda não tem data para ser votada.

O deputado Regis de Oliveira (PSC/SP), vice-presidente da comissão, avaliou a matéria. Ele salientou no relatório a importância do Dia da Consciência Negra. “Em primeiro lugar, concordo plenamente com a proposta pela importância desse grande líder e também pela necessidade de homenagear a luta dos negros pelo reconhecimento de sua cultura, cidadania e da igualdade de direitos.”

O Dia da Consciência Negra homenageia Zumbi do Palmares, considerado símbolo da resistência negra à escravidão. “O dia 20 de novembro tem vários significados. O primeiro, é homenagear Zumbi dos Palmares. A maior referência brasileira negra da luta contra a escravidão e referência mundial da luta pela liberdade. O segundo é a luta permanente para que a consciência da igualdade e do direito de todas as pessoas, não só as dos negros, seja plena no dia-a-dia”, completou o presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo.

Tags Negro, negros, pardos, raça, Dia da Consciência Negra, cor, Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, escurecimento da população

Dia da Consciência Negra: Kléber Pereira


Atacante do Santos diz ter sofrido preconceito racial quando jogava no México
Não tenho certeza da minha descendência. Sou negro com orgulho, e toda a minha família que conheço veio lá do interior do Maranhão (Kléber Pereira é nascido em Peri-Mirim). Vim de uma família humilde, mas todos trabalhadores e que superaram todas as dificuldades raciais que possam existir.

Acho essa data de hoje importante em nosso país, pois ainda vejo o Brasil como um lugar onde existe muito preconceito racial. Muitas pessoas ainda não evoluíram nesse sentido. Uma pena!

Nunca sofri com preconceito em meu trabalho aqui no Brasil. Pelo contrário, sempre fui muito respeitado em todos os lugares por onde passei. A torcida adversária nunca me provocou nesse sentido.

Agora, me recordo de um jogo lá no México, quando atuava pelo América, e fui xingado pela torcida do time oponente. Nem sabia o que se passava, e quando terminou a partida toda a imprensa veio me falar que eram insultos racistas. A gente fica triste em saber que ainda existe esse tipo de gente no mundo.